quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Cobertura MIC - “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa” por Anna Flávia Monteiro

E as atividades do fim de semana na Mostra Internacional de Cinema de Ouro Preto se encerram com o longa “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa”, dirigido por Gustavo Galvão. A atração primeira acontece logo no título, que dialoga com as possibilidades em nossa própria cabeça antes de dialogar com cada cena do filme. Pedro, um brasiliense com pouco mais de 30 anos, foge da cidade natal sem rumo ou planos e conhece Lucas, que fez da estrada seu palco. Com nuances que remetem aos pilares da geração beat, o roteiro foge do lugar-comum para trabalhar com a ideia de um indivíduo que entra num processo de plena transformação num contexto feito de contradições.
Para debater sobre a obra e o tema que é apresentado, o MIC recebeu Gracy Laport, formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto. Apaixonada por cinema, Gracy contou como foi participar da produção do longa.


Como aconteceu a sua integração ao corpo de produção do filme e como foi essa experiência?
Gracy - Estudei jornalismo, gostava de escrever, de cinema, mas não fazia ideia do que era produção. Eu nunca imaginei que eu pudesse gostar dessa parte. Na época que fiz estágio na Secretaria de Cultura e Turismo (hoje Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio), entraram em contato sobre a filmagem. Não existe um órgão que canalize essas produções quando o pessoal vem para filmar, por isso entram em contato com as secretarias. Até então, eu só havia lidado com essa área em disciplinas do curso, mas produção é muito diferente. Notei logo de cara que a equipe era muito tranquila. A maior parte do pessoal da produtora é de Brasília. Eu fiquei fazendo a pré-produção durante mais ou menos um mês antes da gravação na cidade, que durou cinco dias. Eles passavam uma lista de coisas que precisavam e eu corria atrás – restaurantes para o almoço da equipe, hotel, figuração, contato com a guarda municipal, entre outras tarefas. Quando eles chegaram, o trabalho continuou. Era uma equipe pequena, então acabávamos fazendo tudo que fosse preciso - acordar às 4 horas da manhã para fazer o café, para montar... Esse tipo de produção de rua exige que você lide com essa coisa de fazer acontecer. A parte de pagamento e documentação de filmagem, por exemplo, é responsabilidade da produção executiva. Depois de “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa”, a produtora [400 Filmes] teve outras experiências na cidade e sempre me chamavam. Foi aí que fui tendo maior contato com produção de filmagem. Formei, fui pro Rio trabalhar na Conspiração Filmes, muito renomada na área, e lá mexi com produção executiva. Senti falta da rua, sabe? Daí decidi dar um tempo em produção e ir pra área do jornalismo. Acabou que não fui e agora estou em outra produtora, mas as coisas se misturaram mais e tenho um espaço maior para criação.

O que achou do resultado do filme?
Eu achei incrível! O pessoal da produtora é muito legal e mantemos contato até hoje. Lembro que no final da filmagem em Ouro Preto fomos beber no Barroco. Todo mundo mesmo, desde o motorista até o diretor. Eles ficavam falando que eu tinha que ir embora com eles. (risos)

Qual o papel do filme passando em OP?
Até conversei com o Gustavo [Galvão] sobre isso, perguntei como ele se sentia como diretor durante esse processo de ver tudo sair do roteiro para ir para a rua. Ele achou fantástico porque a filmagem aqui acontece quando o personagem principal, o Pedro, vivido por Vinícius Ferreira, está mais confuso. O que vemos é isso: ele sai de uma cidade como Brasília, que é cartesiana, modernista, e chega em Ouro Preto, que é tortuosa, barroca, com toda aquela história, aquele peso. Só quando o Gustavo chegou e viu o Pedro nessas ruas que ele sentiu que era exatamente esse o efeito desejado. Foi melhor do que ele esperava.

O que acha da proposta da mostra?
Achei ótima. A cidade já oferece alguns festivais e momentos interessantes, como o Cine OP, mas quanto mais incentivarem as produções independentes, melhor.  Acho melhor ainda quando rolam esses debates, promovendo diálogo. Tem gente que não sabe o que é produção, por exemplo, daí a gente pode esclarecer e bater um papo sobre cinema. Achei que a ideia foi muito boa. Se eu estivesse morando aqui, não perdia um dia. (risos)


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