E
as atividades do fim de semana na Mostra Internacional de Cinema de Ouro Preto
se encerram com o longa “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa”, dirigido por
Gustavo Galvão. A atração primeira acontece logo no título, que dialoga com as
possibilidades em nossa própria cabeça antes de dialogar com cada cena do
filme. Pedro, um brasiliense com pouco mais de 30 anos, foge da cidade natal
sem rumo ou planos e conhece Lucas, que fez da estrada seu palco. Com nuances
que remetem aos pilares da geração beat, o roteiro foge do lugar-comum para
trabalhar com a ideia de um indivíduo que entra num processo de plena
transformação num contexto feito de contradições.
Para
debater sobre a obra e o tema que é apresentado, o MIC recebeu Gracy Laport,
formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto. Apaixonada por
cinema, Gracy contou como foi participar da produção do longa.
Como aconteceu a sua
integração ao corpo de produção do filme e como foi essa experiência?
Gracy - Estudei jornalismo, gostava de
escrever, de cinema, mas não fazia ideia do que era produção. Eu nunca imaginei
que eu pudesse gostar dessa parte. Na época que fiz estágio na Secretaria de
Cultura e Turismo (hoje Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio), entraram
em contato sobre a filmagem. Não existe um órgão que canalize essas produções
quando o pessoal vem para filmar, por isso entram em contato com as
secretarias. Até então, eu só havia lidado com essa área em disciplinas do
curso, mas produção é muito diferente. Notei logo de cara que a equipe era
muito tranquila. A maior parte do pessoal da produtora é de Brasília. Eu fiquei
fazendo a pré-produção durante mais ou menos um mês antes da gravação na
cidade, que durou cinco dias. Eles passavam uma lista de coisas que precisavam
e eu corria atrás – restaurantes para o almoço da equipe, hotel, figuração,
contato com a guarda municipal, entre outras tarefas. Quando eles chegaram, o
trabalho continuou. Era uma equipe pequena, então acabávamos fazendo tudo que
fosse preciso - acordar às 4 horas da manhã para fazer o café, para montar...
Esse tipo de produção de rua exige que você lide com essa coisa de fazer
acontecer. A parte de pagamento e documentação de filmagem, por exemplo, é
responsabilidade da produção executiva. Depois de “Uma Dose Violenta de
Qualquer Coisa”, a produtora [400 Filmes]
teve outras experiências na cidade e sempre me chamavam. Foi aí que fui tendo
maior contato com produção de filmagem. Formei, fui pro Rio trabalhar na
Conspiração Filmes, muito renomada na área, e lá mexi com produção executiva.
Senti falta da rua, sabe? Daí decidi dar um tempo em produção e ir pra área do
jornalismo. Acabou que não fui e agora estou em outra produtora, mas as coisas
se misturaram mais e tenho um espaço maior para criação.
O que achou do
resultado do filme?
Eu
achei incrível! O pessoal da produtora é muito legal e mantemos contato até
hoje. Lembro que no final da filmagem em Ouro Preto fomos beber no Barroco. Todo
mundo mesmo, desde o motorista até o diretor. Eles ficavam falando que eu tinha
que ir embora com eles. (risos)
Qual o papel do filme
passando em OP?
Até
conversei com o Gustavo [Galvão]
sobre isso, perguntei como ele se sentia como diretor durante esse processo de
ver tudo sair do roteiro para ir para a rua. Ele achou fantástico porque a
filmagem aqui acontece quando o personagem principal, o Pedro, vivido por
Vinícius Ferreira, está mais confuso. O que vemos é isso: ele sai de uma cidade
como Brasília, que é cartesiana, modernista, e chega em Ouro Preto, que é tortuosa,
barroca, com toda aquela história, aquele peso. Só quando o Gustavo chegou e
viu o Pedro nessas ruas que ele sentiu que era exatamente esse o efeito
desejado. Foi melhor do que ele esperava.
O que acha da
proposta da mostra?
Achei
ótima. A cidade já oferece alguns festivais e momentos interessantes, como o
Cine OP, mas quanto mais incentivarem as produções independentes, melhor. Acho melhor ainda quando rolam esses debates,
promovendo diálogo. Tem gente que não sabe o que é produção, por exemplo, daí a
gente pode esclarecer e bater um papo sobre cinema. Achei que a ideia foi muito
boa. Se eu estivesse morando aqui, não perdia um dia. (risos)
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